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metadata.dc.type: Livro
Título: Vinte anos se Milton Santos : e o Brasil continua a ser um país distorcido
metadata.dc.creator: Cerqueira Neto, Sebastião (org.)
metadata.dc.description.resumo: No ano de 2021, completou-se 20 anos da morte física do geógrafo baiano Milton Santos, ganhador do Prêmio Vautrin Lud (que é a mais alta honraria na área de Geografia). Contudo, sua obra parece não só possuir ainda uma atual relevância teórico-metodológica, como também o seu olhar crítico consegue penetrar a fundo nos nossos atuais dilemas “geográficos”. Por isso, a proposta do compêndio de artigos que agora apresentamos ao leitor se caracteriza não somente como uma homenagem ao pensamento crítico de um dos geógrafos mais relevantes do mundo, mas sobretudo como uma tentativa de aplicação dos elementos críticos que compõem sua obra. Nem precisamos relembrar que Milton Santos foi um intelectual que esteve à frente do seu tempo, principalmente quando antecipou o que poderia estar por vir nos dilemas político-sociais do Brasil e do mundo, caso sucumbissem ao processo de globalização, cujo mote de ação nada mais é do que alçar o capital a uma escala hierárquica acima do ser humano. Como se sabe, a perversidade social da globalização neoliberal se consolidou, tornando-se hegemônica, fenômeno já sutilmente delineado na analítica de Milton Santos. No Brasil, especificamente, podemos percebê-la sobretudo neste que decorre da pandemia da COVID-19 de 2020, que, na sua fase mais aguda, ou mesmo agora, depois da vacinação, escancarou elementos de uma dicotomia sutil entre economia e vida. Como observamos no desenrolar dos acontecimentos atuais, a vida foi colocada de maneira vil, abaixo dos apelos constantes da economia. Além disso, até na esfera científica se prevaleceu as hierarquias, de qualificar ou quantificar a importância de uma determinada área, em detrimento das outras, já que as próprias estratificações epistêmicas sobrevalorizam os ditames do mercado. Neste contexto, as Ciências Humanas ainda são vistas como subciências, frente às ciências que se dedicam a produzir para um mercado que busca se salvar a todo custo das limitações impostas pela pandemia. E o mais grave: no Brasil, o que se observa é não só a continuidade na produção territórios opacos, mas um aumento expressivo dos problemas que tornam cada vez maior o número de homens e mulheres lentos. Desse modo, amparados e, ao mesmo tempo, comungando com a indignação da obra de Milton Santos diante dessa dinâmica desigual perversa, implantada nos territórios nas suas diferentes escalas, reunimos aqui neste livro alguns artigos e ensaios curtos (tanto já publicados em revistas científicas e revistos, assim como outros ainda inéditos) com o intuito de exercitar reflexões atuais a partir do espectro teórico da obra miltoniana. O primeiro texto intitulado “Como Milton Santos explicaria o Brasil neste momento de Pandemia?”1 é um esforço no sentido de tentar interpretar como o pensador analisaria o efeito da pandemia pelos territórios. Certamente, é impossível transcrever literalmente como Milton Santos iria analisar o cenário de pandemia provocada pela Covid-19. Não teríamos como adivinhar ou prever a sua reação, tanto como intelectual, quanto ser humano. Todavia, para quem conhece a obra de Milton Santos e a sua postura crítica diante de crises, é possível sinalizar que ele diria que ainda vivemos num país distorcido e repleto de espaços divididos. Indubitavelmente ele mostraria com indignação como, mesmo diante de uma emergência sanitária incomum, continua a se seguir um modelo administrativo que replica estrangeirismos, cujas ações descoladas de nossas características sociais, ambientais e econômicas, estampam um mimetismo que não consegue dar conta das necessidades peculiares da população brasileira. Para tanto, o trabalho selecionou parte do pensamento de Milton Santos com o objetivo de produzir uma reflexão que contribua para decodificar a dinâmica atual imposta ao território pela Covid-19, e mostrando a necessidade de se pensar num reordenamento político-administrativo do Brasil. Afinal, como nos ensinou o geógrafo, a crítica só tem relevância se apresentarmos uma proposta para reverter o que está posto como modelo equívoco de gerenciamento do território. No segundo texto, “A ciência e a tecnologia na visão de Milton Santos”2 , coloca-se o resultado de uma pesquisa que foi desenvolvida em conjunto com uma bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC), na qual o principal objetivo foi apontar o papel das ciências e, ao mesmo tempo, mostrar como os resultados de projetos desenvolvidos nas instituições públicas de ensino não chegam para o uso em massa da população, seja no campo da medicina ou em produtos que visem mitigar o uso de elementos naturais. Não é fácil produzir críticas sobre um tema que parece ser incontestável para grande parte da sociedade mundial. Certamente, o desenvolvimento da ciência e da tecnologia não é acessível a todos os povos do planeta da mesma forma e com a mesma velocidade. Entre todas as suas análises, Milton Santos foi um dos maiores críticos do desenvolvimento da tecnologia e da ciência como atividades desconectadas dos problemas sociais. Neste trabalho, procurou-se explicitar a necessidade de repensar os caminhos da ciência brasileira, pois, num mundo onde a ciência e a tecnologia são partes integrantes do desenvolvimento do país, torna-se fundamental compreender quais são os seus fins e objetivos. No terceiro texto, “O trabalho do geógrafo frente ao sistema do Comitê de Ética em Pesquisa/Comissão Nacional de Ética em Pesquisa: uma proposta de discussão”, aborda-se a equidade entre as ciências no que se refere à exigência de um projeto que tem como característica principal o contato com pessoas e tal como ele deve ser submetido ao sistema CEP/CONEP. O texto, voltado para as Ciências Humanas, mostra o quanto um pesquisador é exigido num processo que sempre foi natural, sobretudo nas pesquisas de campo; isto é, o contato com as pessoas. Uma das principais características do pesquisador que se dedica a estudar a dinâmica do território é o seu intenso trabalho de campo. A imersão no território e o contato com as comunidades participantes da pesquisa são fundamentais para uma análise que tem como objetivo principal colocar em relevo a diversidade territorial e os abismos socioeconômicos existentes num país. Entretanto, as resoluções da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) estabelecem regras que comprometem o relacionamento entre o pesquisador e o território, sobrepondo uma metodologia de pesquisa. A frieza dessas resoluções, com certeza, inibe a produção de pesquisas relevantes. Este texto pretende colaborar numa reflexão que coloca em debate a metodologia científica nas pesquisas da Geografia Humana e as resoluções da CONEP, sobretudo a Resolução 510, que é direcionada para as Ciências Humanas e Sociais. Em É preciso matar Milton Santos! Por quê? apresenta-se um ensaio que narra experiência de um professor em uma banca de defesa de tese, na qual um dos componentes proferiu a seguinte frase: “é preciso matar Milton Santos”. Diante da perplexidade gerada pela frase, ainda mais em um contexto acadêmico, pensamos que é sempre necessário expor, nos mais diversos contextos, qual a importância da contribuição de Milton Santos para a Geografia, desde a escala local até a global, bem como para o campo das ciências humanas como um todo. Por isso, vislumbramos que a obra de Milton Santos não se restringe a um fenômeno de referências para trabalhos acadêmicos, mas se constitui como uma forma de pensamento vivo, que contribui metodologicamente para que possamos enfrentar criticamente as nossas mazelas políticas e sociais. Neste sentido, a frase foi o mote que incentivou a escrita deste breve ensaio, que busca mostrar o quanto os pesquisadores brasileiros devem estar atentos para as novas formas de colonização, inclusive através da proposição da “morte” dos intelectuais que se dedicam a decifrar a dinâmica do terceiro mundo. No quinto capítulo, “A ditadura militar e a negação da mobilidade de nossos intelectuais: o caso de Josué de Castro”3 , propõe-se a abordar a obra de Josué de Castro, que aparece aqui como um ponto de consonância com o pensamento de Milton Santos. Como se sabe, Milton Santos nutria uma admiração pela capacidade de clarividência presente, tantos nos trabalhos científicos, quanto nas análises críticas de Josué de Castro, nas quais ele elaborou um diagnóstico sobre a dinâmica do território, nas diversas escalas: regional, nacional e global. Nas obras “Geografia da Fome e Geopolítica da Fome”, Josué de Castro expõe o pior mal que pode atingir uma sociedade: a fome. Para além do caráter científico, esses dois livros também podem ser considerados como canais de denúncia contra o modelo político e de governança que caracteriza o capitalismo global, que promove a miséria e ameaça a condição alimentar de milhares de pessoas no planeta. Por conseguinte, este texto não se resume a uma exposição das ideias apresentadas nessas obras, mas é uma forma de relatar a atuação político-social de Josué de Castro enquanto médico, geógrafo, político, diplomata, tendo como base o documentário “Josué de Castro: cidadão do mundo” (1994), no qual percebemos, que, assim como a maioria dos intelectuais brasileiros, Josué de Castro foi forçado a deixar o Brasil no período da ditadura militar no país; o que, de modo algum, impediu que a sua força intelectual resistisse à arbitrariedade política e ultrapassasse as barreiras geográficas, sendo, por isso, uma forma de pensamento livre. No sexto capítulo, “Territórios de espera, um não-lugar de esperança?” fez-se uma análise do artigo “Território se espera e o fluxo recente de migrantes clandestinos na Europa. O caso particular do Campo de Jungle, em Calais (França)” produzido pelo geógrafo português João Luís Fernandes. O objetivo é mostrar, a partir do texto de Fernandes, como as migrações de pessoas é um tema inquietante para a Geografia, que se esforça para interpretar as causas dessa dinâmica, cujos diversos vetores promovem sua ocorrência. Para Fernandes, a situação humanitária no acampamento da cidade de Calais, denominado “selva”, mostra qual é o tipo de risco que as pessoas assumem ao se arriscaram a entrar de forma clandestina no continente europeu, particularmente. Como se sabe, os territórios de espera podem estar presentes por toda a parte do mundo, em diferentes configurações. Por isso, Fernandes nos leva a pensar na existência de um não-lugar como um território de esperança, principalmente na busca de uma vida melhor. Em consonância com isso, vemos como Milton Santos foi um dos intelectuais de alcance global que corajosamente elaborou críticas severas no que tange aos povos que foram espoliados no período das grandes colonizações e que nunca puderam pleitear uma moradia digna nos países que os colonizaram. Neste sentido, a reflexão proposta pelo Fernandes se alinha com o pensamento crítico de Milton Santos, no que se refere às dificuldades que os pobres no mundo todo têm para ultrapassar os limites territoriais em busca do “paraíso”. No último texto do livro, “As ideias de Milton Santos vão continuar florescendo”, os pesquisadores do Grupo de Pesquisa Observatório Milton Santos, mostram porque vale a pena e porque é preciso continuar desenvolvendo pesquisas através do legado intelectual e do pensamento de Milton Santos.
Resumo: In the year 2021, it was 20 years since the physical death of the Bahian geographer Milton Santos, winner of the Vautrin Lud Prize (which is the highest honor in the field of Geography). However, his work not only seems to still have current theoretical-methodological relevance, but also its critic manages to penetrate deeply into our current “geographical” dilemmas. Therefore, the proposal of the compendium of articles that we now present to the reader is characterized not only as a tribute to the critical thinking of one of the most relevant geographers in the world, but above all as an attempt to apply the critical elements that make up his work. We don't even need to remember that Milton Santos was an intellectual who was ahead of his time, especially when he anticipated what could be coming in the political-social dilemmas of Brazil and the world, if they succumbed to the process of globalization, whose motto of action is nothing more than raising capital to a hierarchical scale above the human being. As we know, the social perversity of neoliberal globalization has consolidated, becoming hegemonic, a phenomenon already subtly outlined in Milton Santos' analysis. At the Brazil, specifically, we can see it especially as a result of the COVID-19 pandemic of 2020, which, in its most acute phase, or even now, after vaccination, exposed elements of a subtle dichotomy between economy and life. As we observed as events unfolded Today, life has been placed in a vile way, below the constant appeals of the economy. Furthermore, Even in the scientific sphere, hierarchies prevailed, of qualifying or quantifying the importance of a certain area, to the detriment of others, since the epistemic stratifications themselves overvalue the dictates of the market. In this context, Human Sciences are still seen as subsciences, compared to the sciences that are dedicated to producing for a market that seeks to save itself at all cost of the limitations imposed by the pandemic. And the most serious thing: in Brazil, what is observed is not only the continuity in production in opaque territories, but a significant increase in problems that make the number of slow men and women is increasing.
Palavras-chave: Revisão bibliográfica-Milton Santos
Pandemia
Ciência
Economia
metadata.dc.subject.cnpq: CNPQ::CIENCIAS SOCIAIS APLICADAS::ECONOMIA::ECONOMIA DO BEM-ESTAR SOCIAL
metadata.dc.language: por
metadata.dc.publisher.country: Brasil
Editor: Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia
metadata.dc.publisher.initials: IFBA
Citação: Cerqueira Neto, Sebastião (Org.). Vinte anos sem Milton Santos: e o Barsil continua a ser um país distorcido. Salvador: EDIFBA, 2023. 104 p.
metadata.dc.rights: Acesso Aberto
URI: https://repositorio.ifba.edu.br/jspui/handle/123456789/487
Data do documento: 30-Out-2023
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